se os tempos fossem outros daqui a pouco ia à drogaria comprar cola.
sou cliente do meu bairro. gosto do comércio tradicional, gosto da proximidade geográfica e humana e sei que se não abrirmos a carteira a estas lojas elas acabarão por desaparecer. na maioria das vezes, o atendimento e o serviço são melhores e nem sempre as coisas são mais caras. houve sempre alguém que pode vir trazer as compras a casa, fora do tempo do covid. há sempre alguém que atende o telefone e pode vir arranjar o frigorífico ao sábado à tarde. há sempre alguém que te explica como se limpa uma cadeira antiga, estofo e madeira. há sempre alguém que te diz quais os ganchos mais adequados para pregar, em paredes que se desfazem, as tuas molduras do século passado. há sempre alguém que te lembra que os teus bolos preferidos chegaram. há sempre alguém com uma máquina que corta o pão de mafra em fatias mais finas. há sempre alguém que te diz tem cuidado (ah!) adoro isto, as pequenas atenções do quotidiano que nenhuma loja de centro comercial tem. a verdade é que há sempre alguém do outro lado que sabe conversar e que não debita um discurso aprendido.
quando tudo passar e ficarmos bem, como se diz agora, vou lembrar-me disto sempre. não quero viver num lugar-fantasma. no que depender de mim, o comércio do meu bairro não desaparecerá