corria o ano de 1995. eu tinha entrado para a universidade que (so) ficava num dos sitios mais bonitos de lisboa. atravessava a cidade toda, de manha, numa lagarta que parava à porta da minha casa e me deixava à porta do ispa. durante a semana o percurso, com transito, devia demorar cerca de 45 minutos. eu levava sempre o meu walkman amarelo da sony dentro da mala e sentava-me num lugar junto à janela para ver a lisboa desfilar. s. domingos de benfica, jardim zoologico, praça de espanha, gulbenkian, antonio augusto aguiar (que confusao sempre), marquês de pombal, avenida da liberdade, restauradores, rossio (e o autocarro ficava vazio), rua do ouro, praça do comércio (... e o tejo). depois o autocarro virava à esquerda e seguiamos, paralelos ao rio, em direcçao a santa apolonia. eu saia na penultima paragem, no jardim do tabaco. adorava este percurso. dava-me tempo para tudo: para ver lisboa, descobrir novas coisas, ouvir musica, estudar no autocarro. associo muitas musicas a certos lugares por causa destes anos todos a apanhar o 46 e a absorver imagens. hoje a estaçao terminal é no marquês de pombal e o autocarro "chama-se" 746 pfff!!...
nestes anos todos fiquei a conhecer ainda melhor alfama, os restaurantes, as ruas, os patios que me deixavam sempre a sensaçao de estar no quintal de alguém.
até que um dia conheci o pl, que ia ter muitas vezes comigo e depois das aulas iamos passear pela baixa, nas lojas de discos, nos alfarrabistas, nas lojas de velhinhos na rua dos fanqueiros, numa loja de oculos de massa preta, cheia de modelitos lindos, de fazer inveja a qualquer pessoa em 2012 (porque voltaram à moda). a loja era de um casal de senhores idosos e ficava no ultimo andar do prédio ao lado da ana salazar. depois subiamos a rua do carmo, a rua garrett. muitos cafés na brasileira, muitos desenhos e conversas à noite em dias de chuva. hoje é praticamente impossivel encontrar um lugar sentado. um dia, nesse mesmo ano, descobrimos a patisserie bénard ou a (so) bénard e os croissants, de sonho, com chocolate. nao sei se ainda farao, mas é missao para a proxima ida a lisboa. na janelinha ao lado da porta, viamos uma senhora a abrir os croissants de fabrico proprio e, com uma concha, a enchê-los de um chocolate quase liquido. a partir desse dia e durante, talvez, dois anos, "montamos a tenda" nesta porta, nestes três degraus. ir à benard comer croissants começou a fazer parte dos nossos habitos diarios. o chocolate transbordava dos croissants e deixava-nos os sentidos todos despertos. era preciso imensa destreza e alguma elegância para comê-los decentemente. ali estavamos, sentados, o rio à esquerda, o chiado à direita, os transeuntes que passavam e nos deliciavamo-nos com esta hora do lanche dos deuses, com as conversas, com lisboa...
acho que nunca soubemos o que ficava por detras desta porta e nunca viamos ninguem a entrar ou sair...
Sem comentários:
Enviar um comentário