cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





22.9.12

os limites da censura ou os limites da responsabilidade

ha uns dias atras, estava na secção infanto juvenil quando se apoxima uma senhora e me pergunta se certa colecção de bandas desenhadas, no meio de todas as outras que escolhemos pôr neste andar, são realmente para crianças. fiquei surpreendida porque se uma colecção inteira de bandas desenhadas esta na secção infanto juvenil é porque as bibliotecarias acharam que era o sitio delas e ja centenas (senão milhares) de crianças tinham levado aquelas BD de emprestimo sem que tivesse havido sobressaltos. mas quis saber a razão da pergunta e, a senhora respondeu-me que havia mulheres nuas. quando me aproximei e vi a capa do livro, de facto, havia uma rapariga deitada numa cama a dormir, com os braços à mostra e os seios quase visiveis. perguntei-lhe nuas ou descobertas ? ela respondeu-me nuas, abrindo numa pagina onde se via outra personagem na praia a fazer topless. não quis entrar em conversas sobre a nudez, respondi-lhe apenas que aquelas bandas desenhadas estavam de facto na secção infanto juvenil porque era aqui que encontravam os seus leitores. a senhora disse ao filho que afinal ele podia levar aqueles livros de emprestimo porque sim, eram para a idade dele. escusado sera dizer que o rapaz ficou corado dos pés à cabeça e com os olhos ja postos noutras colecções disse que e "não queria levar aquilo".

e pus-me a pensar nas fronteiras da censura e da responsabilidade. concordo que ha coisas que nao sao, de todo, para certas idades, mas também ha livros que crianças de 12 anos não lêem mas que outras crianças de 12 anos lêem. a biblioteca tem o dever, dentro de uma politica de aquisição, de uma responsabilidade e do bom senso, de pôr à disposição uma série de livros sobre os mais variados temas, mas não é da responsabilidade da biblioteca saber o que é que as pessoas fazem com a informação que têm. cada um é livre de pensar, sentir, concluir o que quiser e é graças a isso, à não-censura que temos pessoas tão diferentes no mundo, que temos tantas ideias originais, que ha lugar para (quase) toda a gente... enfim, é assim que temos liberdade. mas voltando aos pais, a meu ver, são eles, antes de qualquer outra pessoa, que têm que saber se certo livro é adaptado à sua criança. por exemplo, uma pessoa pode achar que os filhos, por razões culturais, de educação, etc não devem ler/ver livros que tenham personagens que mostrem partes do corpo às quais os adultos atribuem certas repesentações. e mesmo que possamos não concordar ha que respeitar. acredito que certos assuntos podem ser encarados de forma natural, antes de mais, se os proprios pais acharem que é natural e que, alguns livros, para serem claros para as crianças, é bom que os pais possam lê-los com elas e que estejam abertos a explicar e responder às questões que elas se colocam e lhes colocam dentro das "regras de educação" de cada familia. às vezes são os proprios pais que atribuem significados a certas coisas (claro que é preciso pensar em tudo, mas também gerir isso) nos quais as crianças não pensariam forçosamente.

 
os pais têm a responsabilidade de achar o que é adaptado ou não aos seus filhos. mas nada impede uma bibliotecaria de explicar a uma criança que certos temas ou certas imagens de livros são tão naturais como a curiosidade que se tem neles. porque afinal, sabemos bem que muitos assuntos não são explicados em casa e ha muitas questões que se lavantam na cabeça de crianças, jovens, adolescentes. e haja livros que possam dar respostas !

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