cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





25.2.14

apologia do sofa



se ha coisa que reconheço é o valor de um sofa e quando falo de valor penso no sentido lato da palavra. quando se trata do nosso sofa, entao ai o valor é inestimavel. nunca liguei a sofas antes, eram sitios provisorios, que me causavam comichao porque eram sinonino de fare niente e houve tempos, remotos, em que fare niente nao combinava comigo. houve tempos em que eu nem sequer ligava a televisao e houve tempos em que eu so lia fora de casa ou na cama. o sofa nunca me serviu para nada e quando as pessoas gastavam neles imenso dinheiro porque era de pele, porque era confortavel e isto e aquilo eu revirava os olhos.  pensar em chegar a casa, louvar ao sofa, ter que fazer frete e sentar e experimentar e passar a maos devagarinho. estar quieta. olhar para o boneco ou para a tv. acontece que mudam os tempos, muda a vontade, muda o ser, muda a confiança, dizia o poeta. e sem alternativas fui-me sentando, ajeitando, acomodando, aconchegando, sorrindo, vendo os anos passar. apareceram as séries, apareceu um gato na minha vida, apareceram as mantas ligeiras e quentinhas, apareceu uma janela com uma paisagem linda. apareceu uma vida doce e ociosa e com demasiado tempo e, de repente o sofa, entrou pela minha sala e pela minha vida adentro, pelas minhas conversas, pela vida do meus amigos e, hoje, eu penso no sofa varias vezes ao dia. como quem pensa em voltar a casa e abraçar os filhos ou o marido. eu penso que o sofa sao as minhas vitaminas. sonho com o final do dia, com o momento em que vou chegar a casa, pousar as minhas coisas, descalçar-me, mudar de roupa, ligar o radiador e entao olho para ele, com a coberta marcada por mim e as almofadas desalinhadas. no sofa inscreve-se a minha vida dos ultimos anos. se se pudesse cozinhar no sofa quase que o faria. quase. o sofa é o meu maior conforto e por isso, se hoje fosse a uma loja de sofas e me pedissem uma exorbitância por esta peça de mobiliario talvez nao ficasse escandalizada, mas dividisse todos os centimos pelos dias que o uso, que disfruto dele e que ele me traz felicidade. hoje o fare niente ganhou um prefixo. o dolce fare niente.

Sem comentários: