cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





20.2.13

frança versus portugal ou os dias em que senhorita j. acorda com os pés de fora

nestes anos que tenho vivio em frança, tenho vindo a queixar-me algumas vezes de coisas que não me agradam. a verdade é que, não estando ainda distante mas sentindo ja uma certa distância, vou sentir falta de alguma coisas e vou estar muito contente de me separar de outras. o anonimato é uma delas. é assim um misto de sentimentos. nao gosto de demorar horas a fazer compras porque se encontra tanta gente que, por cada artigo posto no carrinho, se para para conversar com alguém. não gosto de ir ao médico e encontrar (certas) pessoas conhecidas na sala de espera que me perguntam "tudo bem", mas que na verdade querem saber porque é que se esta ali. nao gosto de ser aquela que não é so mais uma entre muitas pessoas que entraram para experimentar um par de botas, mas que sera sempre a do buraco na meia ou a das meias cor-de-rosa (obrigada, menina scarlet). por outro lado gosto de ser aquela que ouve baixinho nos corredores do supermercado a pequenada dizer que eu sou a senhora das historias da biblioteca. também  é graças a esta falta de anonimato que me envolvi numa série de projectos, coisa que numa grande cidade penso que não poderei fazer porque serei mais uma perdida na massa, ou mais uma no meio de uma série de pessoas que sabem fazer a mesma coisa. é verdade, não me vejo em lisboa a fazer cronicas literarias na radio, não me vejo a colaborar em projectos sociais ligados a comunidades com dificuldades de integração, não me vejo a dar aulas, nao me vejo a participar em festivais de leitura internacionais, nao me vejo a colaborar num jornal (mas se calhar até estou a precisar de mudar de oculos). estou (muito) contente por voltar a lisboa, estou serena e, ao mesmo tempo, com receio da possibilidade de não ter as mesmas oportunidades no meu pais (e é o que vai acontecer, dirao muitos). em portugal é preciso "canudo" para tudo (bem me dizia o meu pai), no mundo do trabalho, se não temos um diploma que certifica que fizemos anos de estudos, pouco valemos. a experiência profissional é pouco considerada. também fico verde (tradução literal) quando vejo anuncios de empregos com limites de idades. até aos 30 anos. maximo 35 anos. isto é pura discriminação. que depois das entrevistas escolham uma pessoa cuja idade esta dentro deste limite é uma coisa, mas impôr limites à partida sem conhecerem as qualidades profissionais e pessoais das pessoas é outra. em frança a idade não é um critério para um recrutamento que se apresente das prioridades de pré- selecção de uma empresa. ha desigualdades, também. vergonhosas. quantas vezes recusam candidaturas de pessoas de origem do norte de africa ou de pessoas que moram em certas zonas da regiao de paris com problemas sociais. em portugal também ha discriminação. 
regresso a lisboa. sem emprego. quero ter tempo para pensar na felicidade e naquilo que me faz ou que pode vir a fazer-me feliz. sera que a resposta esta em lisboa? sera que esta nos alpes? estara algures noutra parte do mundo? ao inicio senti um pânico imenso de deixar uma vida confortavel e deixar de ter emprego. liguei para uma série de empresas para saber informações e, na maioria das vezes, as pessoas que estavam do outro lado, falaram comigo com ares de quem tem o lugar quente e como se eu estivesse a "pedir para me darem trabalho". uma coisa que aprendi nestas ultimos tempos é que um trabalho é um trabalho. hoje é uma coisa e amanha pode ja não ser e que podemos fazê-lo com profissionalismo e paixão, mas nunca devemos pensar que pode ser uma das nossas "casas", mesmo passando tantas horas la dentro.  nos contactos que fiz, em nenhum caso os recursos humanos me perguntaram qual era a minha formação e que experiência tinha. em nenhum caso pensaram sera que esta pessoa pode trazer alguma coisa positiva à nossa empresa (perguntem-me vocês: "mas em que mundo é que tu vives?"). e agora, à distância, mas quase pertinho, ja me tinha esquecido que afinal também ha uma série de coisas que me irritam na mentalidade portuguesa. os doutores, por exemplo. aqui os doutores são apenas os médicos. hoje em dia se telefono e peço para falar com o senhor x, levo logo com a voz ofendida, de quem nem é doutor, que me corrige imediatamente e me diz "o senhor não, o "dótôr". afinal valemos mais pelos titulos do que por aquilo que somos. como dizia o outro doutores ha muitos, senhores é que não.

3 comentários:

Vera Espinha disse...

Acho que estás mais do que preparada para o regresso.

Cá te espero para a conversa de café ;-)

beijinhos

Cristina disse...

Boa sorte no regresso :-) Alguma coisa há de ser!! O português tem sempre presente esta máxima :)

Anónimo disse...

Eu fico contente por ter cá a senhorita das meias cor de rosa, apesar de o horizonte não estar nesses tons... mas ainda acredito que é possível ser feliz aqui.
:-*