cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





8.3.14

reencontro


o comboio embalava-me com a cadência dos quilometros. as montanhas que conheci durante tantos anos continuavam ali, estoicas. mas que esperava eu, que elas tivessem mudado? avançavamos a uma velocidade moderada, o dia estava lindo, é quase primavera, mas ainda é tudo opaco, tirando os lugares onde ha neve, o sol bate e de repente tudo brilha. o cheiro do estrume por vezes da lugar ao cheiro da relva acabada de cortar. quando o comboio vira  e deixa a paisagem à sombra, procuro o rasto dos bambis. um olhar atento porque eles confundem-se com a floresta. eles sao a floresta. o comboio aproxima-se de bourg saint maurice e vao entrando caras conhecidas. caras que faziam parte de todos os meus dias, ha quase um ano atras. um ano que passou a correr. emociono-me com isto tudo. o comboio chega à ultima paragem. é aqui que saio. bourg saint maurice, a estaçao de comboios onde até ha um ano atras eu so vinha buscar amigos, ou comprar revistas ou carregar o telemovel. penso que "regresso a casa" sem ter a minha casa. saio da estaçao, olho para a biblioteca onde trabalhei sete anos, procuro diferenças através das arvores, olho para a janela da "minha" secçao dos livros em linguas estrangeiras. quase que tenho medo de olhar para cima. para a montanha onde vivi 6 anos. les echines.  mas olho, e as lagrimas vêm-me aos olhos por pensar que afinal fui tao feliz ali. e que a ultima vez existia tudo: nos dois, a sidonie, a minha casa, os meus moveis, as estaçoes do ano, os bambis. 
penso que so o futuro sabe dizer-nos que fomos felizes no passado, que na verdade foi no presente. mas nesse presente nao fomos capazes de ver que eramos felizes. 
desta vez subo muito mais alto do que esta montanha e tenho que apanhar o autocarro ainda. porque agora eu ando de autocarro, um pormenor a relembrar-me que ja nao pertenço aqui. o meu carro, de matricula francesa 73, pertence aqui, mas ficou em lisboa. incoerências. limpo as lagrimas sento-me à janela. o autocarro da a volta e parece que conheço todas as caras na rua, mas ninguem me vê. atravessamos as montanhas e eu fecho os olhos, conheço as curvas de cor, comovo-me com as montanhas iluminadas pelo sol do fim do dia, penso nas milhares de fotografias que fiz assim. assim, quando os tempos eram outros. chego a val d'isere, abraço o meu amor, homem das neves salva-vidas e penso que a vida é hoje e aqui e que o futuro me mostrara que este dias foram e serao importantes e bonitos.
sento-me no sofa, que eram os nossos sofas, ligo a tv e vejo todos os programas que via quando estava de folga. aqueço o café no microondas que também era o nosso e que cheira a nos, faço torradas com doce de mirtilos e escrevo no blogue. o que me falta neste momento é a sidonie. e isso é muito. mas agora vou tomar banho, vestir-me e sair com a maquina no bolso. ha coisas bonitas e boas para fazer e ha que elaborar um plano de todas as pessoas a ver em tao poucos dias. isso também é tao bom, ver as mensagens de amizade a fazerem barulho naquele que sempre foi e que afinal parece ainda ser o meu telefone francês.

um bom dia dos alpes a quem passa por aqui!

Sem comentários: