cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





27.6.12

da vida de bibliotecaria



eu nao me sei vender, pronto. "quand on est mauvais on est mauvais". apesar de eu ser ma em algumas coisas sou boa noutras. vivo em frança ha 7 anos e sou bibliotecaria ha 6. portanto, a minha profissao é bibliotecaria. nunca percebi porque é que ouvia muitas pessoas responderem funcionaria publica (fp) à questao, "qual é a sua profissao". dentro desta grande administraçao cada pessoa tem uma profissao, ou nao? para quem tem termo de comparaçao com o privado, trabalhar para o estado tem algumas particularidades, umas boas outras mas. dentro das mas, ha a evoluçao na carreira que pode demorar seculos se for por promoçoes internas ou antiguidade, mas se se quiser evoluir mais depressa podem passar-se concursos. qualquer pessoa o pode fazer, seja ela bibliotecaria ou nao (neste caso concretamente). para uma pessoa como eu que chegou aqui ha 7 anos isto nao é pêra doce, porque ha provas escritas e orais. por mais que se tenha sido boa aluna em francês, na escola, que tenha paralelamente estudado na alliance française, que se leia em francês, que se fale francês todos os dias, a verdade é que esta nao é a minha lingua materna, embora eu considere que ja tenha feito imensos progressos, havendo mesmo que nao se aperceba que nao sou francesa. voltando ao trabalho, ha pouco tempo inscrevi-me num concurso para a dita progressao na carreira, um exame escrito que consistia em 5 questoes relacionadas com a area da cultura, cujas respostas deviam ser dadas em 1h30 e baseadas na leitura de varias dezenas de anexos. para meu grande "desgosto" neste exame, havia 3 questoes relacionadas com museus, 1 com arquivos e apenas 1 era dedicada às bibliotecas. os resultados sairam durante as minhas férias e qual nao foi o meu espanto quando vi o meu nome na lista das pessoas que tinhma sido aprovadas e recebi a confirmaçao por carta (imagem). a segunda parte desta prova estava marcada para a semana do meu regresso das férias. chegada ao local da avaliaçao senti-me imediatamente num filme de david lynch. subi de elevador com uma senhora que estava à porta a pedir a identificaçao e com outro rapaz que tambem devia ali estar pelas mesmas razoes que eu. o elevador parou no primeiro andar, a senhora com voz monocordica disse-me que eu teria que me sentar numa cadeira que estava em frente ao elevador, no meio de um corredor. e ali fiquei. de repente, vejo um senhor de fato, vindo nao sei de onde a dizer-me para o acompanhar e segui-o. entrei na sala, o juri era composto por três elementos. esta prova para mim devia ser centenas de vezes mais facil do que a prova escrita, mas nao foi o caso. a prova era cronometrada, eu deveria falar 5 minutos sobre o meu percurso profissional ao longo da vida e nos 10 minutos seguintes, o juri colocar-me-ia questoes. e eu pus-me a tremer, como as folhas no outono. eu nunca (nunca mesmo) fic(ava) nervosa nestas circunstancias e tive que pôr os cotovelos em cima da mesa para os meus braços nao tremerem tanto. entao começo a falar da minha vida profissional, em frança e em lisboa e quando achei que terminei calei-me. mas ainda me deviam sobrar minutos e o juri depois de olhar para o relogio continuou a olhar para mim, dando a entender que o tempo ainda contava. isto duas vezes. e eu a repetir-me, acrescentando uma ou outra coisa. o problema é que eu so falei da minha vida profissional remunerada e a tempo inteiro. as perguntas focaram-se no facto de eu ser responsavel pela secçao de livros em linguas estrangeiras na biblioteca onde trabalho e no português em particular (cereja em cima do bolo); portanto, era a minha grande oportunidade. e assim, continuei a repetir-me enquanto os meus braços tremiam quando me perguntaram se nas escolas da vila onde trabalho havia ensino da lingua portuguesa. disse que nao e que era pena pois ha 20% de crianças portuguesas e em nenhum momento me ocorreu dizer que desde 2010 eu dou aula de portugues em part-time numa escola privada. da mesma maneira, nao mencionei todo o trabalho que fiz voluntariamente com o festival du premier roman de chambery, dos contactos que estabeleci para que portugal participasse, com os editores, bibliotecas, as traduçoes que fiz entre os intervenientes e as do site, nao falei da ediçao em português do livro audio do escritor convidado, lido por mim... e soube mais tarde que um dos elementos do juri tinha feito parte do festival no ano anterior. talvez esta pessoa até esteja a par disso, mas o nosso valor é unicamente atribuido na forma como nos vendemos naqueles 15 minutos. como se nao bastasse esquecer-me destes dois aspectos, também nao mencionei todos os artigos que escrevi sobre o festival e outros, no jornal franco português onde colaboro ha dois anos, essencialmente nas paginas da cultura. era a minha grande oportunidade e perdi-a. porquê? nunca acreditei nisso dos nervos (em relaçao a mim), mas estava nervosa, a prova era cronometrada, mas eu nao tinha relogio, mas sobretudo eu tive medo (ou uma grande amnésia?) de dizer "eu tenho valor, eu faço isto, isto e aquilo, coisas interessantes, eu mereço este lugar".

sai de la com os ombros nas orelhas, a mala a arrastar no chao, frustrada, desiludida e zangada comigo. pode ser-se mau em qualquer coisa mas também pode ser-se mau em nao valorizar qualquer coisa e a perder-se oportunidades. espero que este texto me sirva para o futuro, para o futuro da minha vida profissional e para mim propria. e nao é desta que esta bibliotecaria "sobe um degrau", mas continuara a subir e descer as escadas da biblioteca incansavelmente.

2 comentários:

Deolinda Gonçalves disse...

Oh minha fofa, não fiques triste. Depois deste lindo texto, só tens que estar orgulhosa de ti. São com estas pequenas coisas que aprendemos e crescemos. Para a próxima preparas-te e tudo corre bem.
Eu sou muito orgulhosa de ti minha princesa. Muitos bijus

J. disse...

oh! querida mamã :) ♥