nunca conheci ninguem que nao adorasse paris, a nao ser eu.
a primeira vez que visitei a cidade foi em 2001. nesse ano ficamos num apartamento perto do metro voltaire e visitamos quase todos os monumentos e museus que havia para ver. andei quilometros, fiquei coxa porque os meus pés nao estavam habituados a caminhadas e tiveram uma espécie de tendinite.
a segunda vez que estive em paris foi no ano passado, ficamos em montmartre, metro lamarck e desta vez aproveitamos mais a cidade sem monumentos, com alguns museus, mas como se vivessemos aqui.
em nenhuma destas vezes fiquei apaixonada. nao digo que nao gosto, mas também nao digo que adoro paris. gosto de paris dos filmes, sempre gostei e, alias, acho que a desilusao vem dai, da melancolia, do silencio das ruas, das pessoas bonitas, simpaticas, que nao se parece nada com a vida real. contudo eu sou uma rapariga da cidade. gosto de confusao. gosto de poluiçao (pelo menos enquanto vivi no campo gostava), mas nao da de paris.
e agora estou aqui ha 6 semanas, ando como se vivesse ca, que até me esqueço (ou nao) que nao tenho o tempo todo para visitar tudo o que me apetece. estou mais afastada do centro da cidade e por isso, sempre que vou passear tenho que apanhar o comboio e varios metros. para ir ao centro tenho a sensaçao de demorar seculos e de passar muito tempo debaixo da terra. as pessoas sao tristes, debaixo da terra, esta calor e sente-se insegurança todos os dias. sente-se nos microfones que falam connosco e que dizem que nesse preciso momento entraram carteiristas para as carruagens 1 e 2 e para nos agarrarmos à mala, sente-se quando nos dizem que o comboio nao vai parar em chatelet porque esta um pacote suspeito abandonado no cais, sente-se pelos policias com caes dentro do metro, pelos militares com metrelhadoras nas estaçoes, pelas carrinhas cheias de policias nas ruas, pela pancadaria ao nosso lado em madeleine, pelas rezas que certas pessoas fazem numa lingua desconhecida e em voz alta no metro com os olhos no vazio como se estivessem em transe, sente-se até quando se pensa que se esta em segurança e quando num jantar no hotel entra uma mulher a correr em pânico a pedir ajuda porque um homem vai mata-la. e esse homem chega, olha para nos e começa a dizer que de qualquer maneira esta-se nas tintas de ir preso e a rapariga diz que ele nos vai fazer mal e ele agarra numa das garrafas pousadas em cima da mesa como se a fosse atirar até que... a rapariga finge estar com a policia ao telefone e lhes da a morada do hotel e ele pensa que eles estao a chegar. com uma calma disfarçada diz "eu so quero o meu saco", um saco do lixo com um cobertor la dentro que esta junto à rapariga. ele recupera o saco e sai a correr.
no metro e no rer continua um calor intenso, um cheiro a bafio. as pessoas sao cinzentas (e eu que até gostava de pessoas cinzentas), muitas so lhes vemos os olhos. para a maioria isto é so o quotidiano e talvez ja ninguém ligue a todos os sinais de insegurança. e cada vez percebo melhor quando me dizem como é bom viver em lisboa.
2 comentários:
Também fiquei desiludida comigo por não me ter apaixonado por Paris como os filmes faziam prever. Mas e daí, isso também me aconteceu com Londres e NY.
Acho que só mesmo com cidades sobre as quais não temos expectativas é que podemos apaixonar-nos. Porque só assim nos surpreendemos.
Depende sempre do ponto de vista, não é ? Domingo vais mudar de perspectiva, vais ver.
Estive ontem no Parc Floral a assistir ao Carnaval des Animaux de Camille Sans Sens, com os miudos e tudo me parecia tão tranquilo e facil. Até comparei mentalmente com Lisboa, que para assistires a um concerto quase que tens que pertencer a uma mafia para saberes que ele existe, outra para teres lugares, ou esperares meses. E aqui, todos os dias a cultura vem ter contigo de mãos beijadas.
Mas isso sou eu, que sou uma deslumbradinha por Paris. ;)
Enviar um comentário