cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





7.8.13

dias de cinema (71) ou maria madalena no cinema



domingo queriamos que fosse um dia calmo e de estudo, mas ainda assim decidimos ir a paris. saimos em "odeon" em direcçao a rue monsieur le prince. conheço pouco paris, e pelo que percebi esta é "a" rua das livrarias... ou uma das. algumas fechadas outras ainda em vida, mas ha imensas. talvez la volte para fotografa-las todas.  paris também tem imensos cinemas de rua e, aquilo que em tempos foi tao normal, hoje parece-me tao original. "la cage dorée" passou em frança quando fui para portugal e estreou em portugal quando vim para paris. ainda assim, ainda consegui apanha-lo no cinema les 3 luxembourg  e fomos vê-lo no domingo, numa sala de quatro filas e com wc la dentro (para mim inédito). havia pouca gente a assistir ao filme, mas os que estavam, portugueses e franceses, riram e choraram e, na nossa fila, 3 ranhosas (nos) a fingiam que se aguentavam a rir dos clichés. fingiam. "la cage dorée" é um filme previsivel, cheio de ideias feitas, que às vezes parecem exageradas, mas verdadeiras e que, se calhar, so quem esta ou ja esteve longe consegue entender. durante muito tempo nao percebi os emigrantes, nao percebia porque falavam meio português meio francês, nao percebia porque nao ensinavam os filhos a falarem a lingua dos pais, nao percebia porque exibiam sinais de riqueza de formas parolas. nao percebia muitas coisas. algumas aprendi a perceber por experiência propria, outras em conversa com emigrantes, vindos de sitios diferentes, mas outras coisas permanecem misteriosas. percebo a fragilidade da emigraçao, sobretudo a dos anos 60, 70, 80. respeito estas pessoas que gostavam tanto de ter tido outra sorte, mas tiveram que sobreviver, arriscando a propria vida fazendo contrabando em zonas fronteiriças, à noite, no meio do mato, sem sapatos, sem comida, no frio (sou capaz de ficar horas a ouvir estas historias) e que depois, sem mais escolha, emigraram.  
ha muitas razoes para se emigrar. é dificil chegar a um pais que nao se conhece, um pais que nunca se desejou mas que permite viver, a um pais cuja lingua nao quer dizer nada. a um pais a que se diz sim a tudo com medo de... e depois trabalha-se muitos anos e aprende-se este comportamento. deixa de se saber viver sem trabalhar. espera-se por todos os meses de agosto para se viver de outra forma. e espera-se por mais um agosto. e outro. e outro. e depois espera-se pela reforma ou por um milagre que nos devolva à terra. à nossa terra. onde estao enterradas, profundamente enterradas, as nossas raizes e aquilo que nos é mais intimo.

4 comentários:

rosa disse...

Nunca passei pela experiência na pele, mas convivi na infância e adolescência com esta realidade. Ainda não consegui ir ver o filme, talvez no próximo fds, mas sei que me vai tocar, sei que vou sentir uma nostalgia imensa e que vou recordar (como sempre) o meu primeiro amor, precisamente...um henriiiiiiiiiiiiiique, bien sûr.

Anónimo disse...

Também eu não compreendia e criticava os emigrantes... mas depois a vida encarregou-se de tornar tantos dos meus amigos emigrantes...
Respondendo à catadupa de questões da senhorita J: sim, agora é tudo na nova chafarica :D e que tal tornar-se seguidora? Bisous!

Unknown disse...

Gostei tanto do teu texto e acho que tens tanta razão quando dizes que muitas vezes as pessoas emigram porque tem de ser, mas deixam muito de si em Portugal e os anos vão passando à espera de mais um agosto. Também não tinha muita noção, mas o tempo de professora no estrangeiro deu para perceber mais o menos o porquê de tudo isso. Estudo sociológico :)

Beijos

Cristina Basílio disse...

Que belo texto. :) Há tanto de estranho como de histriónico na fomea como os emigrantes mostram o seu amor às suas raízes. Tenho parte da minha família fora, por opção sentimental, mas reconheço alguns dos traços que são comuns a todos. Uma ligação intensa com as referências culturais que estruturam as origens : a comida, a música, as tradições. Cada um à sua maneira vive-as com mais ou menos adulteração. Mas somos dos povos que mais se "cruzaram" com os outros e que mais sofreu de amor pelo chão que o viu nascer. :) É mesmo um estudo sociológico.

Bj