eu passei para a segunda classe, ainda andava na escola da rua das trinas. a professora tinha-nos dito que íamos aprender a escrever com caneta de tinta permanente e que por isso tínhamos que comprar uma. à saída da escola dei o recado à minha avó que o deve ter transmitido aos meus pais. já em casa, à hora do almoço, falávamos das novidades da minha manhã de escola e o padrinho lembrou-se que tinha uma caneta de tinta permanente que não usava e pôs-se à procura dela. quando a encontrou, a avó veio ter comigo e disse-me “pronto filha, aqui tens a caneta para levares amanhã para a escola. hoje à tarde vamos ao sr. emílio comprar tinta para a pôr a escrever”. eu fiquei contente por ter logo a questão resolvida, mas quando me mostraram a caneta que tinha sido do antónio josé (o padrinho), preta com uma argola dourada, todo o meu entusiasmo se desvaneceu. no dia seguinte cheguei à escola com a dita caneta. a professora começou logo a ensinar-nos a escrever com ela, tarefa que não achei nada fácil, e quando todos os alunos abriram os estojos e tiraram as suas, eu fiquei com uma lágrima no olho a olhar para a minha. todos tinham canetas com super heróis, no caso dos rapazes, e cor-de-rosa ou com corações no caso das raparigas. tive vergonha, digo-o hoje, quando tive que tirar a minha caneta preta de argola dourada do estojo, certamente cor-de-rosa. toda a manhã a escrever com aquela caneta, “feia” de bico estranho e com mau jeito… se ao menos ela tivesse a minnie… olhava para as outras meninas de língua ao canto da boca aplicarem-se a escrever com as suas novas canetas de tinta permanente tão bonitas…
a avó veio buscar-me para o almoço, perguntou-me como é que tinha sido a manhã na escola e eu, com duas lágrimas a deslizarem-me pela cara, contei-lhe a minha manhã de caneta-de-tinta-permanente-preta-de-argola-dourada. quando os meus pais foram buscar-me a casa dela ao fim do dia a minha avó explicou-lhes o caso. os meus pais registaram mas não reagiram logo, coisa que me angustiou e angustiou a minha avó só de me ver angustiada. rumo a casa sem pararmos numa papelaria para eu poder escolher uma nova caneta, o assunto tinha ficado em stand by. passaram-se mais uns dias e eu sem nova caneta de tinta permanente. e, uma tarde, quando a minha avó foi buscar-me à saída da escola, paramos na montra da papelaria do sr. emílio … tantas canetas de tinta permanente, deviam estar na moda, havia de todas as cores, com todos os motivos e super heróis… e havia uma com a minnie, cor-de-rosa. a minha avó entrou comigo no sr. emílio e resolveu ali todas as minhas preocupações e foi assim que no dia seguinte eu cheguei à escola com uma caneta nova, cor-de-rosa, com a minnie e com recargas descartáveis.
... querida avó
3 comentários:
:-) se fosse hoje os miúdos é que ficavam com inveja.
lembro-me da minha primeira caneta. azul, a tampa acho que era prateada. ainda deve andar por casa dos meus pais... e abençoada a hora em que me apresentaram na escola à tinta permanente: continua a ser a minha maneira favorita de escrever.
Por isso é que os avós são uns fofinhos. Estão sempre atentos e a avó Maria era especial - UMA QUERIDA.
E foi com a lagrimita a deslizar pela cara que dei conta da angustia que deve ter sido.
Biju, biju
Já cá não vinha há muito tempo mas o post que me deixas-te levou-me a querer ler mais...bem dita a hora, o teu texto é lindo amiga!!! e viva as avós:)
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