(...)
mas um homem entrou na tabacaria (para comprar tabaco?)
e a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
semiergo-me enérgico, convencido, humano,
e vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
e saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
sigo o fumo como uma rota própria,
e gozo, num momento sensitivo e competente,
a libertação de todas as especulações
e a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
depois deito-me para trás na cadeira
e continuo fumando.
enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
in tabacaria,
fernando pessoa (alvaro de campos)
13 de junho de 1888 - 30 de novembro de 1935
* a sua ultima frase escrita a lapis
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