cela me rassure d'avoir la confirmation qu'il est des choses qui demeurent intactes * philippe besson

one of the secrets of a happy life is continuous small treats * iris murdoch

it's a relief sometimes to be able to talk without having to explain oneself, isn't it? * isobel crawley * downtown abbey

carpe diem. seize the day, boys. make your lives extraordinary * dead poets society

a luz que toca lisboa é uma luz que faz acender qualquer coisa dentro de nos * mia couto





1.10.14

a luta pelos lugares vermelhos

até aqui, nunca tinha reparado nos lugares vermelhos dos autocarros. melhor, tinha reparado neles, mas nao fazia ideia do que la se passava. agora que sou utilizadora tem sido um fartote. em cada viagem é uma luta diaria em hora de ponta para arranjar um lugar. as pessoas que la se sentam sem estarem incluidas no desenho que indica que os lugares sao reservados para determinadas condiçoes sao umas fingidas. fingem que nao vêem. olham para os lados. fecham os olhos. no dia da greve do metro, entrei no 758, que estava cheio. aproximei-me, vi quem olhasse e nada. ate agora nao reivindiquei os meus direitos porque senti que era capaz de ir em pé normalmente. mas é o ser humano que me surpreende, o superego que nao funciona, a bondade enferrujada. dizia eu que estava de pé, o autocarro avançava aos solavancos e de repente ouço uma voz enervada com sotaque crioulo, uma senhora ensardinhada no 58, encostada à porta sem se mexer gritava: mas ninguém é capaz de levantar o rabo para dar lugar a essa senhora? estao a ouvir, esta ai uma senhora gravida! foi o alvoroço, mas so do burburinho. continuaram todos sentados a olhar para os lados a perguntar quem é que afinal estava gravida e que nao viam e que eu nao devia pôr a mala à frente. portanto, o problema era meu, que nao ostentava a barriga como devia ser, nao era deles que estavam sentados onde nao deviam

no dia seguinte, entrava uma senhora à minha frente no autocarro. uma fila desgraçada e ela que pousa os sacos no chao ali à entrada. depois muda de ideias e pousa-nos atras dos bancos da frente. depois sentou-se num lugar vermelho, mas como era de costas mudou para o da frente. depois ainda se levantou a remar contra a maré para ir passar o passe na maquineta. la consegui sentar-me. levava a mala ao colo e outro saco por cima da mala. atras de mim, uma pessoa que ela conhecia. enquanto me olhava de esguelha com um olhar reprovador por nao perceber o que é que eu estava a fazer sentada num daqueles bancos vermelhos. depois começou a implicar com o senhor que estava ao meu lado e a fazer sinais com os olhos para a amiga. nisto entra outra senhora com um bébé ao colo. ninguem se levantava, nem a minha vizinha da frente, que nesse momento concentrou as suas atençoes na janela. eu pedi gentilmente ao senhor que estava ao meu lado para dar lugar à senhora e ele assim o fez. a mae sentou o filho e ficou de pé ao lado dele. eu entao levantei-me, preparando-me para sair dali a pouco e a mae ocupou o meu lugar. nisto vem a amiga da minha vizinha da frente que sem maneiras se vira para a mae que tinha acabado de se sentar e diz-lhe assim: ponha la o miudo ao seu colo que eu quero sentar-me. a senhora, claramente habituada a estas indelicadezas fez o que lhe disseram. mas entra outra mae com outra criança ao colo e eis que reclama o lugar a que tem direito. ninguem se levantou, a senhora que acabara de se sentar começou a dizer que ja tinha uma idade avançada e que bla, bla, bla. la acabou por se levantar contrariada.

ontem a mesma historia, mas fui andando para o fim do autocarro. nao me apetecia partilhar o ar com as pessoas dos bancos vermelhos. ao fundo uma senhora ofereceu-me o lugar perguntando-me se ninguem se tinha levantado la à frente… e hoje… bem, hoje foi mais do mesmo. e hoje digo que aqueles bancos vermelhos ainda vao ver senhorita jota de mao à cintura (que agora nao tem).

é o que se arranja para contar destes dias. é o que se arranja.

vale a pena ler este texto do nuno costa santos

2 comentários:

marta, a menina do blog disse...

O que é curioso é que os lugares vermelhos, se olharmos para os bonecos, são para mamãs, acompanhantes de crianças de colo e pessoas com dificuldades de locomoção.

O dar o lugar aos idosos é uma cortesia, sim senhor, acho bem, mas já as velhas jarretas que por lá se abancam deviam era de ter um autocarro só delas, de preferência que as fosse deixar ao meio do Tejo (isto é o sistema hormonal a responder, espero que passe...)

claudia disse...

já pus algumas vezes a "mão na cintura" por causa desses lugares e não foi apenas em relação a mim, enquanto grávida. A única preocupação pelo próprio umbigo, é das coisas que mais me faz entrar em choque com a sociedade que me espera, mal saio da porta de casa, para a rua. Tenho o terrível defeito (ou não) de me colocar sempre no lugar dos outros. Helàs. A caixa prioritária do supermercado, recordo-me que por vezes também foi "complicada". Inspira.Nem tu,nem ela que cresce dentro de ti, merecem ser vitimas de nervos, causados pela estupidez alheia. ;)