eu sou uma idealista, uma romantica. o passado para mim é quase perfeito. sou uma nostalgica cronica e nao tenho grande orgulho nisso. voltar à savoie, depois dos anos que vivi aqui, trouxe-me uma série de emoçoes que nao imaginava. quando vim viver para ca pensei que se as coisas nao corressem bem, por algum motivo, poderia voltar a lisboa e agora que estou em lisboa penso que se as coisas nao corressem bem poderia sempre voltar aux echines. mas as coisas nao sao assim. a vida nao é a mesma. a minha vida nao é a mesma, o meu trabalho ja nao é o mesmo, no meio dos livros, a sidonie ja nao ca esta. eu propria também ja nao sou exactamente a mesma.
e eu preciso de ver certas coisas para saber que nao poderao nem voltarao a ser. e preciso de voltar aos lugares onde fui feliz. por isso, desci das montanhas de val d'isere para ver as pessoas que conheço no vale e para voltar a subir às montanhas de les echines. subir aquela estrada que conheço de olhos fechados foi maravilhoso. tirei fotografias, apanhei pedras e folhas do chao, que fizeram parte dos meus dias e sempre farao parte da minha vida. entrei na aldeia como se fosse meio dia e eu so tivesse ido almoçar a casa. vi os vizinhos nos terraços a apanharem sol, passei pela antiga escola e parei em frente ao chalet. a pa da vizinha estava à porta. a "nossa" escada continuava igual e, pela porta, percebi que novas pessoas moravam ali. dei a volta, vi as janelas dos quartos abertas e cortinados novos postos. desci. na varanda ja nao havia dezenas de vasos de flores e plantas e canteiros a espreitarem as montanhas, ja nao havia os nossos esquis, os nossos espanta espiritos e tudo o que fazia da "nossa" casa a nossa casa. demos a volta, passamos ao pé das caixas do correio e voltamos a descer. que dias lindos. a relva verde, a agua azul turquesa, as mesmas pessoas na rua e tudo tao diferente. clic clic clic. respirei fundo e pensei "agora o circulo esta fechado".
no final da estrada des echines, estava em bourg saint maurice. comecei por almoçar especialidades libanesas no restaurante dela e depois decidi começar pelo cimo da grande rue. dois passos e uma cara conhecida. queriam novidades e eu também. encontrei o y. que me disse que tinha vendido apartamentos do chalet onde moravamos nos echines e que quem estava agora no nosso apartamento era um senhor, sozinho. sorri com este pormenor. o tempo passava a correr e ainda nao tinha ido à biblioteca. entrei e vi a pessoa que me substituiu. subi as escadas, abracei as minhas colegas, entre exclamaçoes de surpresa, porque eu nao tinha dito que ia, e era como se sempre tivesse estado ali e tivesse so ido de ferias mais prolongadas do que o normal. subi ao bureau e a minha mesa estava intacta, com toda a bonecada em papel pregada nas vigas de madeira e os origamis que me tinham oferecido, em cima da mesa. o meu coraçao ficou apertadinho. fomos para a cozinha beber um cha, sentei-me de frente para a janela, a mesma onde o olhar se perdia pelo céu e pelo topo do pinheiro da s. nos dias de neve e sorri outra vez.
pus em ordem as memorias e os sentimentos. este dia valeu muito e arrumou muitas coisas dentro de mim… mas eu sei que eu nunca consigo ter tudo arrumadissimo...
So consigo ver coisas boas desta vida espalhada por varias geografias. Temos mais hipoteses de nos darmos conta que fomos felizes, do que (realmente?) gostamos, das prioridades. E de nos questionarmos. Gosto muito deste desassossego. Desta falta de organização e destes capitulos todos.
ResponderEliminarai mademoiselle (suspiro)… e assim encerro mais um capitulo do livro do desassossego… embora lhe queira adiar o fim...
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