15.1.14

uma pessoa (é chata)

uma pessoa vai viver quase uma década para outro pais. vai para uma regiao longinqua onde quase tudo o que se passa esta voltado para o desporto. uma regiao com condiçoes climatericas rudes, com pessoas diferentes, habitos diferentes. uma pessoa chega e adapta-se. nos primeiros tempos tudo é novo e razao de espanto e surpresa e motivo de conversa. depois o tempo passa e uma pessoa começa a habituar-se, mas nao a conformar-se. uma pessoa olha para o passado, olha para aquilo que ja teve ou podia ter e ja nao tem. e idealiza isso. ao extremo. acha que a sua vida é uma grande seca, porque nao ha nada para fazer e é preciso inventar as coisas. o tempo existe nesta década e ha que descobrir o que fazer com ele. entao, uma pessoa decide fazer uma data de coisas, coisas que na sua zona de conforto nunca teria ousado fazer. e faz. e consegue. mas ainda nao esta satisfeita. uma pessoa vive numa casa linda, com uma paisagem deslumbrante. quase todos os dias tem qualquer coisa para contar e uma fotografia para postar. mesmo sendo sempre dentro dos mesmos temas, acabam por ter historias diferentes. mas uma pessoa vive a pensar em lisboa. na cidade, na familia, nos amigos. tudo o que é importante parece passar-se a 2000km do fim do mundo. uma pessoa fica chateada por viver onde judas perdeu as botas. entao vai de ferias, aproveita ao maximo e, na altura de se ir embora, leva a maquina cheia de sorrisos e cor e entusiasmo. reservas para os meses de hibernaçao. e uma pessoa passa as fotografias para o computador e lê os jornais, revistas e blogues portugueses e jura que se estivesse em lisboa fazia e acontecia.

e eis que esse dia acontece. o dia em que a pessoa esta em lisboa, e tem tudo ali à mao de semear. tudo. e uma pessoa, que passou uma decada a dizer que se estivesse em lisboa isto e aquilo, que aborreceu o leitor com estes desejos, se encontra inerte. e tem tudo à porta de casa. uma pessoa pensa se tera aprendido a nao fazer nada e a contentar-se com pouco. e uma pessoa zanga-se com tanta teoria e pouca pratica. pensa que desde que vive sozina outra vez, o numero de vezes que cozinhou conta-se pelo dedos de uma mao. que nunca mais fez doces, nem bolachas, nem muffins, nem nada de tudo aquilo que era possivel fazer em dias de neve. em dois dias e meio de folga. uma pessoa pensa isto tudo e continua sentada no sofa. faz uma pausa para escrever este post aborrecidissimo. para dizer que esta em lisboa e tudo aquilo que era desejo e projecto… tudo o que era promissor esfriou. parece que a certeza de ter qualquer coisa nos atrasa o passo e pensa numa frase que leu ha muitos anos atras parecida com "so sabemos que temos todas as coisas quando nunca as possuimos". e uma pessoa da por si a ver as fotografias dos alpes. e tem saudades. sim saudades. e uma pessoa nao percebe. uma pessoa nao SE percebe. e acaba por convence-se de que a unica coisa que tem é o presente. mas nao consegue ser convincente e entao vai à procura de viagens para os alpes. so que os alpes a viver e os alpes a visitar nao sao os mesmos alpes. uma pessoa irrita-se por nunca estar satisfeita e convence-se que afinal gosta é de viver nesta temperatura morna, nesta cor cinzenta neste vai-nao-vai e que se calhar o que era bom era o vai-e-vem. e é isso que uma pessoa vai tendo para dizer. é isso.

16 comentários:

  1. :) esás a passar este ano o que eu passei no ano passado. chegar a lisboa depois de 3,5 anos em áfrica e dar por si a ficar inerte no sofá.
    eu percebo-te. e não acho este post chato. acho que este post... tiveste de arranjar coragem dentro de ti mesma para o escrever e o assumir

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  2. Mas tinhas acabado de escrever um post "here life feels good"! E, além disso, hoje já deu para matar um bocadinho as saudades da neve :-)

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  3. Anónimo15:37

    Uma pessoa até te compreende, mas era mais fácil com acentuação...
    ;)

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  4. Pessoas tem dias de insatisfação... pessoas são verdadeiras e corajosas quando conseguem dizer o que sentem.

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  5. Estou além

    Não consigo dominar
    Este estado de ansiedade
    A pressa de chegar
    P’ra não chegar tarde
    Não sei de que é que eu fujo
    Será desta solidão
    Mas porque é que eu recuso
    Quem quer dar-me a mão
    Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar
    Porque até aqui eu só
    Quero quem
    Quem eu nunca vi
    Porque eu só quero quem
    Quem não conheci
    Porque eu só quero quem
    Quem eu nunca vi
    Porque eu só quero quem
    Quem não conheci
    Porque eu só quero quem
    Quem eu nunca vi
    Esta insatisfação
    Não consigo compreender
    Sempre esta sensação
    Que estou a perder
    Tenho pressa de sair
    Quero sentir ao chegar
    Vontade de partir
    P’ra outro lugar
    Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar
    Porque até aqui eu só
    Estou bem
    Aonde não estou
    Porque eu só estou bem
    Aonde eu não vou
    Porque eu só estou bem
    Aonde não estou
    Porque eu só estou bem
    Aonde não vou
    Porque eu só estou bem
    Aonde não estou
    (letra e música de António Variações)


    Há dias assim...

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  6. http://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ

    há dias assim...esta música descreve esse estado :)

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  7. este post saiu-me das entranhas, maufeitio…
    uma pessoa de repente deixa de perceber onde é que pertence e, depois como se nao fosse ja complicadinha o suficiente, começa uma reflexao sobre a importância do sentimento de pertença ;)

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  8. eu acho que tenho mais de duas costela, marta, e esta é a minha bipolar (provas num post em breve). que pena nao estar em benfica quando ficou tudo branco… teria levado a sidonie a pôr as patas em cima do manto :) e isso ter-me-ia deixado tao feliz...

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  9. menina scarlet, vou encomendar pontuação certa para uma plena compreensão ;) (so em posts pequeninos)

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  10. judy, é capaz de ser isso, (muitos) dias de insatisfação, mas outros muito bons podem depressa compensar esses dias e estes posts :)

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  11. cristina, outra das minhas (muitas… verdade!) costelas é esta, de antonio variações, digo isso muitas vezes ;) é uma espécie de hino da insatisfação, nao é?

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  12. Como percebo a pessoa!
    Agora que penso que nisso, será que o problema é a cidade?

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  13. A constante insatisfação é cansativa, esgotante mesmo, mas também é isso que nos faz andar para a frente! ;-)

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  14. Eu imagino muito bem a pessoa. Agora, que fiz batota, e ja li o post dali a tras, sei que a pessoa é capaz de aproveitar os mbons momentos da vida. E sei também que existem mais pessoas na terra que gostavam que esses tais bons momentos fossem sempre. Caraças.

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  15. calita, problema da cidade? so se por for por ser tao bonita :)

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  16. hajam dias assim, mademoiselle!
    … faz pontaria para vires em dias assim ;)

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